O atacante Gleyson, do Comercial, é a última esperança no futebol da família Garcia de Oliveira. O pai, Paulo, e o irmão, Cleyton, chegaram a jogar profissionalmente, mas não conseguiram emplacar. Artilheiro da Segunda Divisão do Campeonato Paulista com sete gols, o avante do Bafo segue os conselhos do pai até para assistir aos vídeos de um ídolo em comum e aperfeiçoar as finalizações.
- Ronaldo Fenômeno. Tive a oportunidade de vê-lo jogar, sou grande fã deste cara, ele era completo. Difícil falar dele, me arrepia, sou fã de coração. Minha família gosta do futebol dele. Meu pai sempre busca vídeos dele e manda pra mim. Ele fala que, se eu fizer ao menos 10% do que o Ronaldo fez no futebol, certeza que eu vou ter sucesso – brincou o jogador, que se mostrou bastante emotivo ao longo desta entrevista.
A palavra "arrepia" foi dita por ele outras duas vezes: para lembrar da família, que sai de Americana quase todo fim de semana para vê-lo em campo, seja em Ribeirão Preto ou fora, e do sonho de vestir a camisa da seleção brasileira. Ele concorda ser simbólico dormir no alojamento do Comercial, que fica de costas para uma das traves. Morar no gol é tudo que o atacante mais deseja.
Início da carreira
Comecei no Rio Branco, tive uma pequena passagem pelo Grêmio-RS, Coritiba-PR, São Caetano, passagem boa, fui artilheiro do Paulista lá com 20 gols. Passagem pelo profissional também, em Portugal e Espanha. Essas não foram muito boas, profissionalmente falando. Ganhei experiência, mas joguei pouco, tive pouca oportunidade lá. Mas tudo é válido, não reclamo de nada. Fico feliz em ter voltado para um clube grande como o Comercial e as coisas estão dando certo. Passei um pouco de perrengue, até pegar um pouco o estilo de vida, com a língua espanhola. Fui sozinho, né? Depois tudo se ajeitou e deu certo, estadia, alimentação, salário, tudo em ordem. Joguei a Segunda B na Espanha. Lá eles priorizam muito a parte tática, ter a filosofia do clube, então foi difícil pegar isso, do resto é quase a mesma coisa.
Objetivo futuro
É o acesso, levar o Comercial onde o clube merece e, junto com isso, a artilharia, seria muito importante para a minha carreira profissional. Mas meu foco primeiro é o acesso. Agora, meu foco é aqui no Brasil. Mais pra frente quero ir, sim, para a Europa ou para clubes de São Paulo. Mas com outros patamares e outros estilos. Quero de passo a passo.
Pai Herói
Pra mim, sem palavras o que ele fez e faz por mim: acompanha todos os jogos, sai de Amerricana e vem pra cá ou nos jogos fora. me arrepia falar disso. Estou correndo por eles, tentando dar felicidade para eles, minha mãe e meu irmão e ele. Paulo, Dulcinéia e Cleyton. Meu pai já foi profissional, jogou no Jaboticabal e Guarani, mas na época não era tão valorizado igual antes, E ele tinha de trabalhar para levar dinheiro em casa. O sonho dele acabou, mas sobrou pra mim. Era zagueiro, todos diziam que ele tinha qualidade. Diziam, né? (risos). Mas acho que sim. Pra mim é uma alegria fazer o que eu gosto e dar alegria para eles.
Irmão
O Cleyton era zagueiro canhoto, jogou no Ituano, Votoraty, tinha muita qualidade, mas fazia poucos gols. Acho que, na minha família, o papel de fazer gols ficou comigo. Por enquanto, graças a Deus está tudo dando certo. (risos).
Estilo musical antes dos jogos
Gosto de orar bastante, a música também ajuda, no meu fone de ouvido tem sempre um pagode tocando Ferrugem, Dilsinho. Então a gente tenta escutar uma música para dar uma descontraída.
Dancinhas na comemoração
Teve um gol que o Lineker fez uma dancinha para comemorar. É o que a gente dança no vestiário, o bonde, mas a gente tem que ensaiar mais, não saiu muito legal, não (risos). A gente convive mais com os atletas do que com a nossa família, então todos estão unidos, focados. Dá gosto de trabalhar com o pessoal, eles se dedicam demais. Só vai melhorar ainda mais.
Técnico Pinho
Se eu falar que foi um dos melhores com quem já trabalhei, não seria exagero. Sou muito fã do trabalho dele. Ali, no vestiário, ele ganha os jogadores. Estou feliz de fazer parte desta história dele e espero dar mais um acesso para ele, espero que este ano seja o sétimo da carreira dele, porque ele merece.
Seleção Brasileira na Copa do Mundo e se sonha em estar um dia lá?
Acredito que a gente não vai perder nenhum jogo na Rússia, vou torcer muito aqui. Você me perguntando isso até arrepiou. Com certeza que quero estar lá um dia, a gente trabalha para isso. É batalhar e poder dar mais uma alegria para nossa família. O Brasil é um dos favoritos, ainda mais o Tite, faz um ótimo trabalho. Vamos torcer, é o que resta para nós.
Aplicação tática
Eu sempre tento ver vídeos recentes de jogos da Europa ou do Brasil para que possa chegar perto disso. Eu me movimento muito, ajudo a recompor no meio de campo, pois todo mundo tem de marcar e dar carrinho para que todos saiam com êxito.
O que faz nas folgas
Saio para comer um lanche, um açaí. Aqui a cidade é muito quente, aí um Açaí dá uma refrescada. Aqui só se fala em Come-Fogo, mas infelizmente neste ano não vai dar para disputar um. Quem sabe nos próximos. Eu espero um dia jogar um clássico deste, pois não se fala em outra coisa a não ser neste jogo aqui na cidade.
De onde veio o nome?
Eu sou o mais novo, minha mãe falou que ia ser Cleyson, Gleydson, algo parecido e saiu assim. É uma maravilha, eu gosto. Até agora eu não vi nenhum atacante com este nome. Espero que seja forte no futebol, como foi pra minha família, espero dar alegria para eles.
Superstição
Entro com o pé direito, dou três pulos, faço o nome do pai, mas não tem superstição. Na verdade é muita fé, mas de uma outra maneira. Oro para que ninguém possa se machucar, meus companheiros, os adversários, que todos saiam bem. De resto é só trabalhar e correr que a gente conquista.
Fonte: Globo Esporte
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